30/08/07

WOMAN OR WORK IN PROGRESS?

Inaugura hoje, dia 31, às 22 horas, no espaço cultural Plano B, no Porto, a exposição colectiva de artistas plásticas, intitulada Woman or work in progress?

Artistas plásticas representadas:
Adriana Castro; Benedita Kendall; Catarina Machado; Daniela Nogueira; Isabel Monteiro; Joana Peres; Joana Rêgo; Marcela de Navascués; Marta Fonseca; Paula Parracho; Sandra Palhares

A todas um bem haja pela iniciativa e, à Cata, um beijinho especial!

Lá estaremos, linda :)

28/08/07

10 fillmes

Respondendo ao difícil desafio de Nefertiti deixo 10 filmes que amei ver e, em muitos casos, rever. Há mais. Há tantos, cá dentro. Mas só me pediram 10!

Cá vai, à velocidade... do momento:



Aurora, F.Wilhelm Murnau
O Leopardo, Luchino Visconti
O Clube dos Poetas Mortos, Peter Weir
Disponível para Amar,Wong Kar-Wai
Triologia das Cores, Krzysztof Kieslowski (considero um, apesar de serem três filmes)
Uma História Simples, David Lynch
Hable com Ella, Pedro Almodovar
Asas do Desejo, Wim Wenders
O Carteiro de Pablo Neruda, Michael Radford e o incontornável
Cinema Paraíso, Giuseppe Tornatore


Agora, lanço o desafio ao Prof. Funes, ao K, à Dalaila, ao JG e à Desert Rose...venham daí esses filmes!




23/08/07

99 Cervejas + 1



As cervejas estão a ficar como as águas!


Complexas. Diversas. Múltiplas.


De todas as cores e sabores.


Imensas.

Só falta uma que emagreça!
Um litro por dia e está cientificamente provado...blá, blá, blá :)
Eu que, há muitos anos, aprendi a gostar de cerveja numa esplanada transmontana, onde a possibilidade era só uma – Super Bock com tremoços – fico sempre surpresa com as novas invenções. Confesso que a de sabor a pêssego é a que menos me entusiasma.
Nunca a provei. Nem faço intenção.
Gosto muito de pêssegos. E gosto muito de cerveja.
Numa garrafa, não me convencem.
Gosto também de cerveja preta. Gosto da Stout.
E gosto da Bohemia.
E, claro, sempre, da Super Bock com tremoços.
Em recipientes diferentes. Entenda-se.
São sabores afectivos.
Como o da Bud, em certos-fins-de-tarde-mais-citadinos-da-minha-vida.
E tenho saudades – não de Manaus - mas das conversas com a Claudia insular,
quando o aroma da Bud me vem à memória.
E da Guinness, de um certo bar, em Mira.
E do Napoleão, na Foz.
Pessoas que temos no palato.
Salvo seja!
E se tivesse lata, aproveitava, agora,
para me declarar ao Francisco José Viegas.
Mas não tenho.
No entanto, devo-lhe estas notas soltas.
Ou melhor, a um livro que editou.
Nem prosa. Nem poesia.
Outra coisa: um guia. De cervejas.
Espreite aqui.
Entretanto, brindemos! Com cerveja, pois claro...
A "metade da vida". Ou à vida inteira.

17/08/07

Até dia 4 de Novembro tem tempo...

Dali, o homem que fez do tempo, com o tempo
metáforas surreais e tinha das recordações definições assustadoramente lúcidas,disse:
«A única diferença entre mim e um louco é que eu não sou louco»
« Não tenha medo da perfeição. Você nunca a vai atingir»
Está no Porto, no belíssimo Palácio do Freixo, a exposição que revela algumas obras de Salvador Dali. Desenhos, pinturas, esculturas. Uma delícia! Às sextas, Sábados e Domingos, as portas estão abertas até às 24. Uma verdadeira gala...
Tal qual uma Gala inspiradora. Uma Gala musa. Uma Gala Dulcineia.
Dali, a não perder. Vale mesmo a pena!
Digo eu... que fascino com os seus bigodes; que me altero com a sua arte...

14/08/07

Indignações 2



Dalila, Ricardo e companhia estão lá!
E eu aqui a trabalhar...
Amanhã, dou um salto ao melhor festival de Verão do país!
Ai dou, dou...
E, como diria o simpatiquíssimo Carlos Malato:
Eu já fui tão feliz, em Paredes de Coura :)

Indignações

Ouvi na SIC, há dias, que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, está ao abandono! Localizada na Rua Arqtº. Viana de Lima, a obra destinada a residência do cineasta, museu e biblioteca foi vandalizada, pilhada e... pronto!
Como é possível? E agora? Que filme!

13/08/07

À volta da Volta

A Volta a Portugal em Bicicleta não me diz nada. Aliás, diz-me muito pouco.
Uma vez o meu pai, num Verão muito mais nítido do que este, abriu a janela do carro e um dos ciclistas agarrou-se, com uma só mão, claro, deixando-se levar por outra velocidade, uns minutos.
Uma ajuda invulgar. Achei.
Suava em bica. Ali, à minha janela. Na subida difícil.
E eu incrédula, a olhar para o esforço dele.
De resto, não retenho mais nada sobre o assunto.

Ontem, num zapping, Gondomar era o cenário do programa da Volta.
Zulmiro de Carvalho, escultor por quem tenho simpatia e cuja obra não conheço como dever ser, fez-me parar nas suas palavras. Dizia ele, a quem lhe perguntava se não sentia falta das suas esculturas depois de as concluir:
« não.Quando começo a fazê-las já me estou a despedir delas».

Às vezes caio, deixo-me cair...

Uma vez, há muito tempo, quando para mim as coisas simples ainda eram todas obvias e ver televisão nas tardes de domingo era inevitável, retive a frase, no meio de um filme, do qual não recordo o título: “a fé só existe, porque existe a dúvida”.
Foi assim que vi, revista e aumentada, a minha lista de axiomas adolescentes.
Então, a fé e a dúvida, pensei, coexistirão infinitamente.
Numa idade especialmente fértil em dúvidas, temi tornar-me monja, asceta, sei lá.
Isto caso as dúvidas fossem proporcionais à fé, claro.
Desligada do filme que, para mim, tinha terminado ali, naquela frase, emaranhava-me nos meus pensamentos pueris e lineares, condicionada, evidentemente, pela minha educação católica.

E por outras vertentes do meu processo de socialização: a escola.
A dúvida é condição de fé. E ia moendo aquilo à minha maneira.
À maneira dos meus catorze anos.
E pensei nas cruzadas e nas missões. Nos otomanos e nos bizantinos, no Concílio de Clermont e nas barbas grisalhas do professor de história que nos estava a ensinar aquilo tudo. E nada daquilo me fez sentido (e pensei mesmo ir tirar satisfações com o professor) pois não concebia encontrar alguém que não tivesse dúvidas, logo que não tivesse fé. Nem cristãos nem muçulmanos. Ninguém. Logo, se as dúvidas eram certas, mais cedo ou mais tarde todos achariam a tal fé.
Era só uma questão de paciência, de esperar pelo tempo certo.
Pensava assim, retida naquele axioma novo, acabado de adoptar.
E, mais tarde, perguntei à minha mãe se ela tinha dúvidas. E ela perguntou-me sobre quê. Sobre alguma coisa. E ela disse logo que não.
Fiquei de rastos, porque achei que ela deveria ter imensas dúvidas. Até porque ia à missa e, naquele tempo, para mim, ir à missa era ter fé.

E, agora, sinónimo de ter dúvidas.
Lembro-me de todos estes pensamentos cruzarem o meu cérebro como jactos.
E, no domingo seguinte, quando fui à missa, pus-me a pensar em quais seriam as dúvidas de toda aquela gente. Olhava-os, tentando descortinar as dúvidas que teriam. E se teriam tanta fé como dúvidas. Ou se teriam mais dúvidas do que fé. E se não tivessem dúvidas nenhumas, também não precisavam da fé para nada. Mas não devia ser bem assim, porque a minha mãe disse que não tinha dúvidas e estava lá. E a fé era ainda algo que eu não sabia definir. Eu entendia o que era ter dúvidas porque as tinha. E achava que quando rezava tinha fé. E, afinal, pareceu-me evidente que tinha fé porque tinha dúvidas.

E que talvez rezasse para as deixar de ter.
De resto não achava mais nada. Nunca tinha experimentado as consequências de ter ou não ter fé. Mas já tinha levado com as consequências de ter ou não ter dúvidas. A missa tinha chegado ao fim e, foi por esta altura que dei comigo a pensar numa tribo imaginária onde ninguém tivesse dúvidas de nenhuma espécie.
E não fosse à missa nem a nenhuma outra celebração.
Não duvidar de nada, nem de ninguém.

Não acreditar em nada nem em ninguém. Viver.
Aquilo agradou-me especialmente e, não fosse a igreja estar repleta de gente muito mais velha teria defendido, para mim, que as dúvidas tenderiam a desaparecer com o passar dos anos. Mas não. Era evidente que não.
À noite, no diário de bordo da minha adolescência, registei uma historieta intitulada «existir sem dúvidas», longe de imaginar o quanto esse relato encantado me faria sorrir de mim e das minhas estapafúrdias deambulações.
Uns anos mais há frente, ainda no liceu, cruzei-me com os primeiros filósofos e, já na universidade, com Mercia Eliade, Santo Agostinho, entre outros. Kierkegaard foi o mais cirúrgico a mexer, novamente, no assunto da fé e da dúvida. Obrigando-me a uma nova revisão dos meus postulados sobre a matéria. Ainda adolescente li, com certa angústia, O Desespero Humano. Nietzsche, também deu cabo de umas tantas auto-evidências da minha existência e foi com fascínio que as enterrei. Uns de uma forma, outros de outra, foram diversos os autores que pulverizaram o meu modus vivendi e o meu modo de pensar.
Tal como acontece hoje. Nunca mais as certezas foram as mesmas. Tirando uma ou outra. E as dúvidas somavam-se – somam-se – numa equação interminável.
Mas responde-me, dizia-me ela, impaciente, de olhos fixos nos meus.
- Tens fé, Isabel?
- Às vezes deixo-me cair. Caio e, lá em baixo, não há nenhuma rede.
Nada visível que me ampare o tombo. A dúvida.


10/08/07

Se eu fosse eu

«Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria?
Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria?
Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser LOCOMOVIDA do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida.
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir.
Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais».
Clarisse Lispector