18/12/07

Confidências

Comprei uma caixa de música para a minha sobrinha F.
Comprei outra, igual, para a minha M.
Tenho de esperar que cresça mais um pouco.
Porque acredito:
todas as meninas deviam ter uma caixa de música.
É assim que começa a história que comecei a escrever-lhes.

Lista de compras de última hora

- Ervas aromáticas
- Mel
- Alhos
- Limões
- Canela
ps. perguntar à Marta Maria onde comprou o fabulástico descascador de alhos que me ofereceu!

Obrigada, 3 vezes obrigada

Chegou para o susto! Mas temos de ver as coisas pelo lado positivo.
Ter, não temos. Mas dá mais jeito!
Eu nunca tinha andado de ambulância...e andei! Nunca tinha posto uma máscara de oxigénio...nunca tinha, em hora de "todos na rua", passado à frente...tiróri-tiróri, cidade do Porto fora, em direcção ao hospital. Eu, zonza, eu a pensar nas pessoas que amo, eu a pensar que há um quarto de hora atrás não era suposto estar ali, a pensar na vida e nos semáforos vermelhos que, com toda a certeza, haveríamos de passar...eu a pensar, enquanto os sentidos não se iam de vez, que os carros se haviam de desviar para a ambulância passar, tal como eu me desvio...quando estou no trânsito! Eu a beber ampolas de água com açucar, eu que nem imaginava que existissem ampolas de água com açucar, muito menos dentro de ambulâncias... «Sabe, nas ambulâncias, também se passam episódios felizes». Confesso que nunca me tinha ocorrido!
Para mim, ambulância sempre foi sinónimo de desgraça e, obviamente, que estava errada! Apesar do meu estado!
Isto tudo para agradecer à fantástica equipa do INEM que me transportou ao hospital.
Obrigada! Foram geniais.
No trato e no sentido de humor.
Humor é fundamental.
Tal como o amor.
Obrigada!
Do fundo do coração!
Obrigada.

29/11/07

"Mafaldinho" ou o meu sobrinho filósofo...


O meu sobrinho G., de quatro anos, feliz, a mostrar-me um mapa de Portugal que um dos tios lhe tinha oferecido:
- Tia... vou dizer-te onde ficam as cidades. Sabes onde fica Braga? E o Porto?
E lá me ía mostrando, no mapa, onde ficavam as cidades que tinha aprendido.
Após me ter indicado umas poucas, quase todas, vira-se para mim, muito sério e sereno e atira:
- E sabes onde fica o Portugal minúsculo?
...............................................
Eu a olhar para ele. O sorriso todo cá dentro.
O mundo inteiro nos seus olhos enormes e sábios.
- Não G, não sei. Onde fica?
E de imediato o seu dedo a calcar o ponto vermelho, no reduzido planisfério, ao lado do mapa de Portugal!
- É aqui. É aqui, tia, que fica o Portugal minúsculo!
- Pois é, meu querido, pois é. É aqui.

Feliz aniversário

Ele sonhou ter uma. E teve. Juntamo-nos sete amigos. E ela, a mesa de ping-pong, apareceu em sua casa. Ouvi dizer que, agora, há torneios com o nome da rua dele, no coração do Porto! E o coração dele é como a mesa: lindo, enorme e azul...



Conversa de surdos...


Ao fim da papelada tratada e ao balcão da empresa de aluguer de automóveis, a funcionária, pergunta:
- Qual deles prefere? o fgh; o xct; o fhk ou o xpto?
Ela, com a expressão mais incapaz do mundo:
- Escolha. Eu se sair daqui num carro vermelho, pensarei que saio de ferrari...
- Estou a ver...acompanhe-me, por favor.

......

No percurso, até à garagem.

- Que carro conduz, habitualmente?
- Um Fiat.
- Qual?
- O meu.

- Estou esclarecida.

22/11/07

Convite


(clique na imagem para aumentar)

Aqui fica o CONVITE. Utilizem-no e passem a palavra! No primeiro dia de Dezembro, juntem-se a nós no lançamento do livro do João Negreiros. Será às 21.30 horas, no Iduna Espaço, em Matosinhos. A entrada é livre. As palavras são...a capa é... tanta ternura.

um novo livro que amo


Há sempre lugar p`ra mais um
Imagina que todas as pessoas que vivem saíam à rua
era muita gente
imagina
estás a imaginar?
de que cor são?
a que ervas cheiram?
a que sabe o bafo?
olha para dentro agora
estás a olhar?
estás a vê-las?
pois estás
são muitas
cabem-te no coração e tu não cabes em ti
não as deixes morrer
porquê?
porque merecem
porque perecem?
porque te distrais
ficam com frio
com medo
com fome
com pneumonia
já tiveste pneumonia?
não?
pois mas as pessoas já algumas já tiveram pneumonia
e tu nem um calafrio sentiste?
a sério?
um por cada uma?
então estiveste de cama?
quanto tempo?
todos os dias?
então estás sempre doente
e tens sempre temperatura para os aquecer dentro de ti
(está sempre quentinho
tu aqueces todos e todos se aquecem numa lareira a fingir porque as
(paredes do mundo são mornas
e tu ama-las muito
não amas?
amas não amas?
amas não amas?
não?
não?
não?
de certeza?
não lhes sabes o nome?
nem sequer o apelido?
que estranho todos eles sabem o teu nome
in O cheiro da sombra das flores de João Negreiros

20/11/07

A única verdade absoluta

As pessoas quando pensam

fazem-no com o coração

é no trajecto p´ra cabeça

que se perde a informação


in O cheiro da sombra das flores, João Negreiros

16/11/07

Está sendo bom. Muito bom.


Ontem foi bom, muito bom! John Scofield. Casa cheia. A companhia excelente:
Cristina, Dalila, Carlos e Pedro! Uma noite fantástica e uns copos na Praça da Oliveira.
O regresso ao Porto e o coração posto na noite de hoje. Confirma-se. Lá estaremos. Novamente.
Graças à menina do Farol :) ...
«Ahmad Jamal é um dos maiores pianistas da história do jazz. De técnica magistral, possui um sentido de tempo e de utilização do espaço excepcionais»
A Cristina e o Carlos vão fazer-nos falta hoje à noite! Até o escravo Lourenço :)
A Menina do Farol, essa, está sempre presente.
Mesmo quando está sintonizada noutra onda!
Boa viagem até Lisboa. Para os três!

Uma quê?!



«Uma mulher que me deixasse ler o jornal em paz (…), que, quando eu estivesse a trabalhar, soubesse fazer silêncio (…), não olhasse para a minha mãe com olhos de nora ciumenta (…), não me esgotasse a paciência fazendo-me sempre esperar (…), não me desequilibrasse o orçamento (…). Uma mulher capaz de compreender a doce sujeição que a esposa deve ao marido.»


Revista da MPF – Menina e Moça, 1948


«Em 1937, a Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) nascia com o objectivo de criar a nova mulher portuguesa: boa esposa, boa mãe, boa doméstica, boa cristã, boa cidadã sempre pronta a contribuir para o Bem comum, mas longe da intervenção política deixada aos homens.
A historiadora Irene Flunser Pimentel traça-nos a história deste movimento, obrigatório para mulheres dos sete aos catorze anos, através do Boletim do MPF e mais tarde da revista Menina e Moça, veículos de transmissão dos valores e comportamentos ditados pelo regime salazarista.
Ao folhearmos estas páginas, deparamo-nos com raparigas fardadas de bandeira em punho, lições de lavores e trabalhos manuais ou outros afazeres da vida doméstica, indicações sobre o fato de banho oficial com decote pouco generoso e saia não muito curta, lemos textos sobre a atitude a ter em casa com o marido, conselhos sobre livros fundamentais e outros proibidos aos olhos destas jovens e aprendemos as virtudes dos grandes heróis nacionais como D. Filipa de Lencastre ou o Santo Condestável.»

Eu gostava de ler este livro da Esfera dos Livros! Eu gosto de história :)

08/11/07

Jazz em Guimarães


Começou hoje - PHAROAH SANDERS - e termina dia dia 17. A imagem deste ano não é esta mas está muito bonita. Para mim, das mais bonitas dos últimos anos! O programa? A não perder! Aqui, vendem-se os bilhetes. Ainda voltarei mais noites. Mas gostava de não faltar a 16. AHMAD JAMAL. Mesmo, mesmo a não perder!

Coisas de mulher...


Há dias em que acordo lamentando não usar uma farda só para não ter de pensar/escolher o que hei-de vestir!!!
Outras, acordo com vontade de me pôr bonita!!!
Isto para dizer que o meu espírito prático aplaude o regresso dos vestidos. Uma só peça e tá andar... :) Quem ditará estas coisas das tendências do que se usa e não se usa? Do que está in e do que está out?! Ainda gostava de saber como surgem as cores, os tecidos, os padrões etc, que fazem furor em cada estação do ano. Pura curiosidade! Porque, confesso, não sou de modas. Visto o que gosto. Visto, aliás, o que me dá mais conforto. Mas que gosto de vestidos, lá isso gosto! Práticos. Alguns!

06/11/07

Tão feliz?


As minhas horas, os meus dias desaguam aqui. Agora.
Ha um certo milagre em tudo isto.
E, apesar do sol não ser de Outono, genuinamente de Outono;
apesar do tempo não pedir castanhas em canudos de jornal;
não me lembro de ter sido tão feliz num Outono quase Inverno.
Tão feliz? Sim. Tão Feliz.
Com a maresia a entrar-me nas narianas. Com o Douro aos meus pés.
Junto de um cais de chegada. E de partida também. Um dia.
Mas hoje, agora, nesta margem do rio, tudo,
tudo sem excepção,
me parece possível.

05/11/07

Coisas que nos marcam...


Estou desolada! A minha auto-estima foi ao tapete! Fui alvo de uma derrota impronunciável. Nos matrecos!!!!

30/10/07

Ele deixou de fumar... em 1983


Lucky Luke, o meu cowboy preferido, também deixou de fumar! O mais rápido do Oeste, criado em 1946, em vez do cigarro, ostenta, agora, uma palha!
Com mais de 70 álbuns publicados e traduzidos em 30 línguas, cerca de 250 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, Lucky Luke é um dos maiores sucessos da Banda Desenhada Europeia. Em 1983, Morris retirou o cigarro da boca de Lucky Luke, imagem de marca do Cowboy e substitui-o por uma palha, politicamente correcta... Que isto de reproduzir modelos tem o que se lhe diga...
Como sabem, as aventuras de Lucky Luke terminam com ele, montado no seu cavalo, em direcção ao sol poente, ao som da canção
“I am a poor and lonesome cowboy”...
e isto com uma palha na boca...não é a mesma coisa... lá isso não! Quem fuma ou já fumou...sabe que não!

Deixar de fumar... eis a questão...


Quem me conhece sabe que tenho mau feitio! Agora estou muitooooooooooo pior! Deixei de fumar! E há situações em que ele sabia tão bem... outras, em que me fazia falta! Por exemplo, escrever um post sem fumar, é quase um drama :) Trepo paredes, faço trinta por uma linha...mas há quase um mês que não pego num cigarro! Aliás, ocorre-me que como deixei de fumar assim, de repente, de um dia para o outro, sem a ajuda de nada, a não ser da minha casmurrice, esse seja o motivo de algumas alucinações nocturnas...que é como quem diz, sonhos estranhos! É isso. Tá explicado! Falta de nicotina no organismo gera sonhos e, quiça, coincidências!

22/10/07

Ando apaixonada por este CD...

...pela voz dela. Pela fabulosa voz de Amy que, quando ouvi pela primeira vez, pensei que fosse uma fabulosa voz negra! Gosto particularmente da nº2 e da nº 4. Gosto do disco todo. Já o gastei de tanto o ouvir.
Amanhã, a caminho de Lisboa, vou gastá-lo mais um bocadito, ai vou, vou...
Gracinha... Obrigada!

Não posto há 21 dias. Não é só preguiça.
Motivos há imensos.
Sobra-me o espanto.
Histórias. O tecto do meu quarto está lotado.
De repente, Viseu, Lisboa, Luanda.

O mundo ficou sem fronteiras. Para uma galaico-duriense,
agarrada à meseta de afectos.
E não pensem que não sei o que são terramotos. E sismos.
Sei bem. Não sei, se sei de sobra. Mas sei bem.
E sei o que é pegar na régua e no esquadro. Outra vez.
São 200 anos. É muita vida. E às vezes sinto-me cansada.
Eu de suplemento na mão, a desfolhá-lo,

em vez de o pôr no lixo, como sempre.
Espaços & casas ou vice-versa. Ou nada disto.
Casas em Lisboa em páginas de jornal.
Eu de marcador a fazer círculos à volta dos anúncios.
Eu a fazer e a não estar a acreditar no que fazia.
Eu a perceber que às vezes não acreditamos no que fazemos mas fazemos.
E fica feito. Eu a fazer analogias, a desviar-me do cerne da questão.
E os anúncios, tantos. E a faltarem-me as ruas, as zonas. Sei lá onde fica isto.
Eu, entre a luz e o granito. E o granito como retrato e a luz como estímulo.
Eu a telefonar. A perguntar por preços, voz segura. Coração trémulo.
Mas a perguntar. Como se nunca tivesse dito não a Lisboa. Convicta.
Eu a pesquisar na net. À procura de Luanda. No Belas Shopping.
Eu tentada. Já no avião. Nas nuvens.
Com vontade de regressar e ainda não tinha saído do sofá.
Eu a fazer contas e a apagar o sorriso dos meus sobrinhos do quadriculado do caderno. A sentir os xis-corações.

Os seus braços a crescerem à volta do meu pescoço.
Deixa-te de ser lamechas. Vá. Deixa-te de tretas.
Vai ser muito bom. E mesmo que não fosse.
Não podes ficar aí de braços cruzados, a ruminar.
Logo agora que eu começava a gostar de certas rotinas e a gostar de quem gosta de certas rotinas.
Logo agora que a Sra. Zulmira sabia os dias em que eu podia beber o café com a nata. Boa hidro, menina. E abria o sorriso. Deixe as calorias na água.
Logo agora que eu sabia que saindo de casa às 8.25 em ponto, não tinha de correr a passar o túnel, para ouvir os Sinais. Logo agora que...
Não vale a pena ruminar. Mas há imagens que insistem.

Acontecem em minutos e repetem-se uma vida.
O pisa-papéis, pesado, precioso, na cabeça do Sr. Manuel.

O pisa-papéis inteiro na cabeça do pisa-mansinho
que queria ir a Nova York mas não sabia falar inglês.
Como foste capaz?
A mercadoria do contentor por conferir. A recusa da assinatura.
Ò dra. não assina? Isso vai dar problemas. E deu.
A gajita de 26 anos a chamar-te demasiado educada. Como se fosse um insulto.
A dizer-te que era preciso ter tomates. Como se fosse um requisito.
E tu, polida, a dizer que tomates, tomates, tem quem recusa uma pipa de massa à porta de casa. Que - perdão - tomates, tomates, tem o Sr. Manuel, que levou com o pisa-papeis do Dubai nas trombas e nem chiou. Cambaleou. A sangrar. Pingas de sangue no mármore. Atrás de si. E depois, no Jaguar.
Surreal. Não havia muito mais por onde escolher.

A choradeira dentro do Focus. Estrada fora.

Não imagino como vai ser.
Não imagino. E até imaginava.
Mais uma história banal.
A tentação, à flor dos lábios.
Voz alta, dentro do carro.
Porquê a mim?
Poupa-me. Por favor.
A ti, porque sim, porque se não fosse a ti, era a outra qualquer.

E depois, de repente, já perto de Lisboa ou Luanda, aconteceu.
O coração, feito casa de muito movimento.
Alfândega de novas mercadorias.
Voltado para o Douro, feito cais de afectos.
O granito como retrato, a luz como estímulo.
Como se houvesse milagre.



01/10/07

O JG recordou-me o quanto há cafés - muito poucos - que apetece provar. Nespresso é uma dessas marcas irresistíveis. Ele até provou; ele que até confessa detestar borlas. Mas o café em causa tem poder...cafeína ou demonstradora não importa!
O importante é que a marca tem gosto! Muito bom marketing. Muito bom!


«Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamenente ao movimento de crescer nos guiasse. Teremos das árvores
A incomparável paciência de procurar o alto.
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros».
Daniel Faria
Gosto de calendários.
Principalmente quando somos nós em dias que nenhum calendário conhece.

29/09/07

Coisas que combinam comigo...



(magníficas fotografias retiradas daqui)

A chuva


Está de súbito o dia clareado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
Que sem dúvida ocorre no passado.
Quem a ouve cair vê recuperado
Esse tempo em que a sorte venturosa
Lhe revelou uma flor chamada rosa
E a curiosa cor do encarnado
Esta chuva que vai cegando os vidros
(...)
(excerto de um soneto de Jorge Luis Borges. Dedicado à Claudia Sousa Dias. Pelo magnífico tecer sobre um dos meus autores de eleição)

28/09/07

Prémio Visitante


Recebi-o da menina que vive no farol! É o prémio visitante. Tirando que eu ando mais parada do que uma árvore...(sem janela de carro ou de comboio) o gesto é tudo :)
E agora terei de o passar a outros. Dizem as regras.
Como não podia deixar de ser vai em primeiríssimo lugar para a minha primeira comentadora: Nefertiti! Uma distraída com quem me identifico... e, claro, para a WOB do mesmo blog.Vai, ainda, para a Claudia Sousa Dias que lê muitos livros...Vai para o Prof. Funes, que irá recusar o prémio... e jamais porá este boneco com ar suspeito (e dentes de tubarão) no seu blog ;) para o Talisca e para o Nuno Carvalho... obrigada a todos pelas visitas. E pelas palavras. Tantas vezes com tanto.
Eu também estou quase a chegar ao OUTONO...
(imagem Marisa Figueiredo Silva)

Um presente diferente


Amanhã vou experimentar. Deram-me pelo aniversário um presente que amei. Um presente diferente que vou usufruir com data marcada! Um vale que vale uma massagem. De quase duas horas! Um vale com validade de 3 meses. Para que eu não stresse com a marcação. E eu não stressei...com a marcação... porque com o resto... nem vos digo, nem vos conto!
E, amanhã, então, pode cair o Carmo e a Trindade...

O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada

-Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...
E o resultado?Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...

Álvaro de Campos

05/09/07

Vem aí o autor da Pior Banda do Mundo...

A exposição People Who Wear Helicopter Hats, de José Carlos Fernandes, inaugura na próxima sexta-feira, às 21.30 horas, não no Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante mas, sim, no Museu da Chapelaria, em S. João da Madeira. Fã me confesso. ..da Pior Banda do Mundo e do humor, ironia, enfim
génio... de José Carlos Fernandes.
Estão todos convidados!
Saber mais sobre o autor aqui, por exemplo. Ou aqui.

O pintor...em 5 minutos

MUITíSSIMO BOM

30/08/07

WOMAN OR WORK IN PROGRESS?

Inaugura hoje, dia 31, às 22 horas, no espaço cultural Plano B, no Porto, a exposição colectiva de artistas plásticas, intitulada Woman or work in progress?

Artistas plásticas representadas:
Adriana Castro; Benedita Kendall; Catarina Machado; Daniela Nogueira; Isabel Monteiro; Joana Peres; Joana Rêgo; Marcela de Navascués; Marta Fonseca; Paula Parracho; Sandra Palhares

A todas um bem haja pela iniciativa e, à Cata, um beijinho especial!

Lá estaremos, linda :)

28/08/07

10 fillmes

Respondendo ao difícil desafio de Nefertiti deixo 10 filmes que amei ver e, em muitos casos, rever. Há mais. Há tantos, cá dentro. Mas só me pediram 10!

Cá vai, à velocidade... do momento:



Aurora, F.Wilhelm Murnau
O Leopardo, Luchino Visconti
O Clube dos Poetas Mortos, Peter Weir
Disponível para Amar,Wong Kar-Wai
Triologia das Cores, Krzysztof Kieslowski (considero um, apesar de serem três filmes)
Uma História Simples, David Lynch
Hable com Ella, Pedro Almodovar
Asas do Desejo, Wim Wenders
O Carteiro de Pablo Neruda, Michael Radford e o incontornável
Cinema Paraíso, Giuseppe Tornatore


Agora, lanço o desafio ao Prof. Funes, ao K, à Dalaila, ao JG e à Desert Rose...venham daí esses filmes!




23/08/07

99 Cervejas + 1



As cervejas estão a ficar como as águas!


Complexas. Diversas. Múltiplas.


De todas as cores e sabores.


Imensas.

Só falta uma que emagreça!
Um litro por dia e está cientificamente provado...blá, blá, blá :)
Eu que, há muitos anos, aprendi a gostar de cerveja numa esplanada transmontana, onde a possibilidade era só uma – Super Bock com tremoços – fico sempre surpresa com as novas invenções. Confesso que a de sabor a pêssego é a que menos me entusiasma.
Nunca a provei. Nem faço intenção.
Gosto muito de pêssegos. E gosto muito de cerveja.
Numa garrafa, não me convencem.
Gosto também de cerveja preta. Gosto da Stout.
E gosto da Bohemia.
E, claro, sempre, da Super Bock com tremoços.
Em recipientes diferentes. Entenda-se.
São sabores afectivos.
Como o da Bud, em certos-fins-de-tarde-mais-citadinos-da-minha-vida.
E tenho saudades – não de Manaus - mas das conversas com a Claudia insular,
quando o aroma da Bud me vem à memória.
E da Guinness, de um certo bar, em Mira.
E do Napoleão, na Foz.
Pessoas que temos no palato.
Salvo seja!
E se tivesse lata, aproveitava, agora,
para me declarar ao Francisco José Viegas.
Mas não tenho.
No entanto, devo-lhe estas notas soltas.
Ou melhor, a um livro que editou.
Nem prosa. Nem poesia.
Outra coisa: um guia. De cervejas.
Espreite aqui.
Entretanto, brindemos! Com cerveja, pois claro...
A "metade da vida". Ou à vida inteira.

17/08/07

Até dia 4 de Novembro tem tempo...

Dali, o homem que fez do tempo, com o tempo
metáforas surreais e tinha das recordações definições assustadoramente lúcidas,disse:
«A única diferença entre mim e um louco é que eu não sou louco»
« Não tenha medo da perfeição. Você nunca a vai atingir»
Está no Porto, no belíssimo Palácio do Freixo, a exposição que revela algumas obras de Salvador Dali. Desenhos, pinturas, esculturas. Uma delícia! Às sextas, Sábados e Domingos, as portas estão abertas até às 24. Uma verdadeira gala...
Tal qual uma Gala inspiradora. Uma Gala musa. Uma Gala Dulcineia.
Dali, a não perder. Vale mesmo a pena!
Digo eu... que fascino com os seus bigodes; que me altero com a sua arte...

14/08/07

Indignações 2



Dalila, Ricardo e companhia estão lá!
E eu aqui a trabalhar...
Amanhã, dou um salto ao melhor festival de Verão do país!
Ai dou, dou...
E, como diria o simpatiquíssimo Carlos Malato:
Eu já fui tão feliz, em Paredes de Coura :)

Indignações

Ouvi na SIC, há dias, que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira, no Porto, está ao abandono! Localizada na Rua Arqtº. Viana de Lima, a obra destinada a residência do cineasta, museu e biblioteca foi vandalizada, pilhada e... pronto!
Como é possível? E agora? Que filme!

13/08/07

À volta da Volta

A Volta a Portugal em Bicicleta não me diz nada. Aliás, diz-me muito pouco.
Uma vez o meu pai, num Verão muito mais nítido do que este, abriu a janela do carro e um dos ciclistas agarrou-se, com uma só mão, claro, deixando-se levar por outra velocidade, uns minutos.
Uma ajuda invulgar. Achei.
Suava em bica. Ali, à minha janela. Na subida difícil.
E eu incrédula, a olhar para o esforço dele.
De resto, não retenho mais nada sobre o assunto.

Ontem, num zapping, Gondomar era o cenário do programa da Volta.
Zulmiro de Carvalho, escultor por quem tenho simpatia e cuja obra não conheço como dever ser, fez-me parar nas suas palavras. Dizia ele, a quem lhe perguntava se não sentia falta das suas esculturas depois de as concluir:
« não.Quando começo a fazê-las já me estou a despedir delas».

Às vezes caio, deixo-me cair...

Uma vez, há muito tempo, quando para mim as coisas simples ainda eram todas obvias e ver televisão nas tardes de domingo era inevitável, retive a frase, no meio de um filme, do qual não recordo o título: “a fé só existe, porque existe a dúvida”.
Foi assim que vi, revista e aumentada, a minha lista de axiomas adolescentes.
Então, a fé e a dúvida, pensei, coexistirão infinitamente.
Numa idade especialmente fértil em dúvidas, temi tornar-me monja, asceta, sei lá.
Isto caso as dúvidas fossem proporcionais à fé, claro.
Desligada do filme que, para mim, tinha terminado ali, naquela frase, emaranhava-me nos meus pensamentos pueris e lineares, condicionada, evidentemente, pela minha educação católica.

E por outras vertentes do meu processo de socialização: a escola.
A dúvida é condição de fé. E ia moendo aquilo à minha maneira.
À maneira dos meus catorze anos.
E pensei nas cruzadas e nas missões. Nos otomanos e nos bizantinos, no Concílio de Clermont e nas barbas grisalhas do professor de história que nos estava a ensinar aquilo tudo. E nada daquilo me fez sentido (e pensei mesmo ir tirar satisfações com o professor) pois não concebia encontrar alguém que não tivesse dúvidas, logo que não tivesse fé. Nem cristãos nem muçulmanos. Ninguém. Logo, se as dúvidas eram certas, mais cedo ou mais tarde todos achariam a tal fé.
Era só uma questão de paciência, de esperar pelo tempo certo.
Pensava assim, retida naquele axioma novo, acabado de adoptar.
E, mais tarde, perguntei à minha mãe se ela tinha dúvidas. E ela perguntou-me sobre quê. Sobre alguma coisa. E ela disse logo que não.
Fiquei de rastos, porque achei que ela deveria ter imensas dúvidas. Até porque ia à missa e, naquele tempo, para mim, ir à missa era ter fé.

E, agora, sinónimo de ter dúvidas.
Lembro-me de todos estes pensamentos cruzarem o meu cérebro como jactos.
E, no domingo seguinte, quando fui à missa, pus-me a pensar em quais seriam as dúvidas de toda aquela gente. Olhava-os, tentando descortinar as dúvidas que teriam. E se teriam tanta fé como dúvidas. Ou se teriam mais dúvidas do que fé. E se não tivessem dúvidas nenhumas, também não precisavam da fé para nada. Mas não devia ser bem assim, porque a minha mãe disse que não tinha dúvidas e estava lá. E a fé era ainda algo que eu não sabia definir. Eu entendia o que era ter dúvidas porque as tinha. E achava que quando rezava tinha fé. E, afinal, pareceu-me evidente que tinha fé porque tinha dúvidas.

E que talvez rezasse para as deixar de ter.
De resto não achava mais nada. Nunca tinha experimentado as consequências de ter ou não ter fé. Mas já tinha levado com as consequências de ter ou não ter dúvidas. A missa tinha chegado ao fim e, foi por esta altura que dei comigo a pensar numa tribo imaginária onde ninguém tivesse dúvidas de nenhuma espécie.
E não fosse à missa nem a nenhuma outra celebração.
Não duvidar de nada, nem de ninguém.

Não acreditar em nada nem em ninguém. Viver.
Aquilo agradou-me especialmente e, não fosse a igreja estar repleta de gente muito mais velha teria defendido, para mim, que as dúvidas tenderiam a desaparecer com o passar dos anos. Mas não. Era evidente que não.
À noite, no diário de bordo da minha adolescência, registei uma historieta intitulada «existir sem dúvidas», longe de imaginar o quanto esse relato encantado me faria sorrir de mim e das minhas estapafúrdias deambulações.
Uns anos mais há frente, ainda no liceu, cruzei-me com os primeiros filósofos e, já na universidade, com Mercia Eliade, Santo Agostinho, entre outros. Kierkegaard foi o mais cirúrgico a mexer, novamente, no assunto da fé e da dúvida. Obrigando-me a uma nova revisão dos meus postulados sobre a matéria. Ainda adolescente li, com certa angústia, O Desespero Humano. Nietzsche, também deu cabo de umas tantas auto-evidências da minha existência e foi com fascínio que as enterrei. Uns de uma forma, outros de outra, foram diversos os autores que pulverizaram o meu modus vivendi e o meu modo de pensar.
Tal como acontece hoje. Nunca mais as certezas foram as mesmas. Tirando uma ou outra. E as dúvidas somavam-se – somam-se – numa equação interminável.
Mas responde-me, dizia-me ela, impaciente, de olhos fixos nos meus.
- Tens fé, Isabel?
- Às vezes deixo-me cair. Caio e, lá em baixo, não há nenhuma rede.
Nada visível que me ampare o tombo. A dúvida.


10/08/07

Se eu fosse eu

«Quando eu não sei onde guardei um papel importante e a procura revela-se inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria?
Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar, diria melhor SENTIR.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria?
Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser LOCOMOVIDA do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida.
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua, porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei. Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo que é meu e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teriamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir.
Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando, porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais».
Clarisse Lispector